terça-feira, fevereiro 27, 2007

Explodindo Divãs

Atenção necessidade pago por ouvido Psic me dá uma hora por favor ! mas nada é dado só é vendido então a minha alma emudece porque sou pobre pobre pobre de marré marré marré de si dó ré fá sol lá mi bemóis sustenidos e demais sonoridades.

Tentaram me vender um coelho eu disse não depois um papagaio eu perguntei se era de pirata era sim então também não comprei aí me vieram com uma toalha chinesa que eu não entendi e mais uma vez eu disse não feito Terezinha da canção de Chico fez com os homens e daí mais então ainda eu dei minha grana toda a um mendigo.

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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

O Dia em Que a Ciência me Converteu ao Cristianismo

Cientistas estão desenvolvendo um supercomputador na Suíça para simular um cérebro artificial. O Blue Brain, como está sendo chamado, tem estrutura parecida com a do computador mais rápido do mundo: o Blue Gene, da IBM. Os pesquisadores acreditam que terão uma importante ferramenta para realizar novas descobertas sobre as origens da consciência humana.

O hardware inédito tem cerca de 10 mil chips que atuam como neurônios. Para que a simulação fosse possível, os brilhantes pesquisadores esmiuçaram parte do córtex cerebral, bem como a estrutura ramificada semelhante às sinapses. Tudo devidamente reproduzido no Blue Brain.

Segundo os cientistas, apesar do grande progresso na pesquisa sobre o cérebro ao longo dos anos, perguntas importantíssimas permanecem sem respostas. Por exemplo: como a consciência se desenvolve dentro das células? Ou ainda: como é acesa uma centelha de intelecto a partir da interação entre genes e proteínas? O Blue Brain seria o equipamento mais fodão desenvolvido até hoje para investigar estes e outros mistérios.

Acontece que o cérebro simulado foi o de roedores. Logo, o Blue Brain é um puta cabeção de rato eletrônico. Daí virá a luz para os nossos caminhos. Ai Jesus, a partir de agora eu acredito em salvação!

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terça-feira, fevereiro 20, 2007

O Eterno Dugongo

Em 1982, era um moleque de sete anos. Queria torcer por uma escola de samba e a primeira que veio à cabeça foi a Boêmios de Inhaúma, por ser a do bairro. Mas a agremiação era nanica, jamais desfilara com as grandes. Mais precisamente, um bloco que só mais tarde veio a ser GRES. Afetos locais à parte, a Boêmios estava descartada. Entendia, apesar da pouca idade, que um torcedor deve fazer suar a alma em prol de monstruosas energias coletivas. Além do mais, é na corrente de almas suadas que cada torcedor, em êxtase e incontrolável, vê se deitar a glória da conquista.

Decidiu que a eleita seria aquela com o samba mais bonito. Enfeitou o coração de confete e serpentina, abraçou a Coroa Imperial e juntou-se aos Moleques de Debret. O samba de Beto Sem Braço e Aluísio Machado, antes de triunfar na avenida, desenhou uma apoteose no peito do menino, que fez Bum Bum, Paticumbum, Prugurundum com a típica força espevitada da infância. Comprou calça branca e blusa verde, boné da escola, aprendeu a cantar o samba todinho e até ensaiou alguns passos.

Naquele ano a Império Serrano sagrou-se campeã do carnaval carioca. O menino acertara. Ele era, já aos sete, um campeão que de uma barrica faz uma cuíca e de outra monta um surdo para marcação. Quem é Yemanjá? – indagava na época. A mãe cujos filhos são peixes – soprou algum espírito carnavalesco. Sem hesitação, disse que queria ser um dugongo formoso, exclusivo das águas marinhas, peixe-mulher a inspirar a lenda das sereias. Ainda por cima, traria a percussão no próprio nome. Perfeito para futuros carnavais!

No entanto, de lá pra cá, a Império não ganhou mais nenhum desfile. Chegou até a ser rebaixada, mas depois se reergueu. O menino foi crescendo e criando simpatia pela Mangueira. O moço passava em frente à primeira estação toda vez que ia para o trabalho ou para a universidade. Mangueira de Cartola, pensava. Mas virar a casaca é coisa vergonhosa, de gente traiçoeira, uma deslealdade imperdoável. Condenava-se só de se refrescar com a brisa do ato.

Mas que diabo! Que super crise existencial! Tanto “um” aos sete acabou plantando a semente de quase três décadas de secura. Sua alma de homem pigarreia. Quer mais do que nunca e o mais breve embriagar-se com um título. Ser içado a um céu percussivo pelas argolas de um novo embalo, pois o passado se gasta e, por mais que se fale em tradição, não dá mais para viver às custas de um sol desbotado pelo tempo.

Ele vê a Mangueira passar na TV. Ela está insuportavelmente linda, leve e contagiante. É demais para a sua tosse. Ele não consegue admitir que o seu amor está murcho. Que o verde permanece, mas o branco é coisa a ser trocado pelo rosa.

Intrigado, desliga a TV e vai para cama. Custa a dormir e o sono é agitado. Nesta noite, ele sonha que a Sapucaí é um mar tempestuoso e ele aparece, pesando quase uma tonelada, com um par de dentes incisivos protuberantes e com unhas gigantes em lugar das nadadeiras. Enquanto as escolas desfilam, ele mergulha de narinas fechadas na avenida-mar e se alimenta de pequenas plantas um pouco abaixo da superfície. O tossidor-torcedor é o próprio dugongo, com olhos pequenos e sem pálpebras, a ver a Império passar incólume e estonteante.

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terça-feira, fevereiro 13, 2007

A Invenção de uma Ebulição


Lamentos se enrolam e se deitam cândidos
às vésperas de um tumulto ensolarado
espalhando luz em vergão
pelo tatame do convívio, doce convívio que
veste qualquer movimento na direção
da suposta mão cordial que se abraça
com outras mãos que se apertam
e se invejam em suas linhas.

Ímpetos se afogam com pontos de interrogação
talentosamente construídos para adornar
as cinturas que não podem
perder seus rebolados na rotina bambolê
dos dias risonhos, em crise, os dias
se amparam em sementes tratadas
com novos putos ímpetos sobreviventes
e pequenas falcatruas de postura.

Celebrações de aventuras,
taças tácitas, solenes,
a perenidade assustadora na batida
de corações que se ajoelham
açambarcando notícias, desmantelos e sonhos
em montagens de resfôlegos anônimos.
Entre palmas, assobios e meneios,
surge uma paralisia em cada vão dos dentes.

E aquilo que se torce tem para onde escapar?

As graxas sujam mesmo ou é só pretexto para o jogo dos mascarados?

A miséria pode estar em linho
ou isso
é só um modo de reinventar fragilidades?

De um ponto é possível observar
uma linda moça cavalgando em seus desejos
mais secretos, mais sinceros, e também nos mais postiços,
uma moça-casa-de-amores-desajeitadamente-belos;
de um outro se expande a magreza
dessa mesma fêmea, tão esbelta
que é capaz de acoitar quem a destrata,
de morder verrugas como quem lambe doce.
Da brecha dos pontos
é possível cogitar o abandono de tudo,
o senso esquisito de não fazer da insistência
mero pano de fundo ou sombras
para um descanso carente de brisa.

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sábado, fevereiro 10, 2007

Carnaval do Mal

Pois é, decidi passar o carnaval aqui mesmo em Brasília. E tem carnaval na capital? Se formos pensar em política, tem o ano todo. Mas o que quero mesmo é samba ou, se samba não houver, música qualquer para alegrar meu esqueleto. Como sou um garoto de fé, sempre penso que alguma coisa deva haver. De bacana. Dificilmente penso errado.

Descobri um lance chamado Carnaval do Mal, uma festa que rola em Brasília e que está em sua 6º edição. Este ano ela vai acontecer aqui na Asa Norte, pertinho de casa. Ai chuchu! Pelo menos na segunda, dia em que a esbórnia vai rolar, eu vou ter com o que me aquecer. Parece que lá tudo é barato, bonito e gostoso. A entrada custa cinco até a meia-noite. Para dar um toque especial, a garota-anarcopinga oferece gratuitamente a tal da anarcopinga – a marvada, o kitut. Já fiquei sabendo que a parada é para derrubar os vivos e levantar os mortos

A prévia também está fluindo. Hoje mesmo tem encontro de blocos na 302 Norte. Faltam os outros três dias. Mas na segunda... Na segunda é certo. Carnaval do Mal - In Vino Veritas, In Cachaça Carai.

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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Mudubim e a Lata Preta

Mocinha, mas já presa às garras das dores fulgurantes. A relação com Péris sempre foi imprevisível e tumultuada. O que os unia era o calor de dois corpos jovens; um não sabia viver sem a temperatura do outro. Havia ali uma espécie de vício basal que metabolizava a paixão incendiária e os nivelava. Aquilo era ardor, mas também guerra; a lavra do amor acompanhada de estrago e destruição. Sem emitir um sinal sequer, Péris sumiu e nunca mais Helenita soube por onde andava o seu Mudubim, modo carinhoso como o chamava, um jeitinho de atenuar a brabeza dele.

Desde então Helenita se via como a mais miserável das mulheres. Infeliz, desprezível, enfeou. Mas o destino logo a compensou colocando Nascimento em suas trilhas. Em pouco tempo, voltou a ter vaidades e em sua memória já não havia o menor resquício de Péris. Nascimento era o amor de sua vida. Generoso, encantador e afeito a surpresas. Certo fim de tarde, ele a levou para a beira-mar de Cabedelo, onde tantas vezes viu o sol se pôr da forma mais delicada e elegante. À medida que iam se aproximando do lugar, aumentava o som de um grupo de pessoas cantando “Que me leve e me trague, tem dó / nas profundezas do mar/ devore-me o peixe preto/ para salvar-me de amar”. Neste dia, Helenita achou uma lata preta em um pequeno declive, encostada em uma pedra, e colocou-a na bolsa sem que Nascimento percebesse.

Por alguns anos, guardou a lata na gaveta da mesinha de cabeceira que ficava próxima ao lado em que dormia na cama. Foi Dona Chaim quem disse que ela estava com um instrumento poderoso nas mãos. Que muita gente se danava, mas uns poucos conheciam a glória. Era coisa de arriscar. A lata preta de Cabedelo já transformara a vida de muita gente, para o bem ou para o mal. E sempre, de forma inexplicável, voltava à encosta para que outros a pegassem e revirassem seus destinos. Dona Chaim ia na casa da moça toda vez que os ponteiros do relógio bambeavam. E a moça gostava de passar o tempo com aquela senhora doce e cheia de mistérios.

A vida de Helenita e Nascimento ia bem. Mas nos últimos dias, diferentemente do começo, andava sonhando com Péris, lembrando do cheiro, sentindo falta daquele calor. Ela queria apagar de vez o passado. Trocar de cidade, conhecer novos ares, se afastar de vestígio de coisa que trouxesse qualquer perna de lembrança.

Numa noite em que Nascimento fazia um de seus serões para ganhar mais algum, Helenita foi inteiramente tomada pela presença do outro. Sentia como se fosse agora a quentura de antes. Não era possível aquilo, depois de tanto tempo. Mirava a lata e mil coisas sacudiam a sua cabeça. Apalpava a maldita. Revolvia-a o medo de perder Nascimento, ou mesmo a ameaça de que algo sinistro acontecesse. Lembrava das palavras de Dona Chaim, para quem a lata era um monstro disfarçado de objeto.

- Se eu fosse você esfregava, pagava pra ver. Cê é jovem, Helenita, tem tempo pra reverter qualquer desgraça. Eu não. Sou velha e estou mais pra lá do que pra cá.

O suor de Helenita escorria copiosamente, como um avanço da cegueira que determinadas angústias trazem. O cabelo grudado na testa, a pele ensebada de aflição e do interesse em desvendar. Distraía-se com os pingos de chuva da madrugada rápida. Foi até a cozinha. Tomou um copo d’água. Ali mesmo, esfregou a lata preta com vontade, para afastar Mudubim de uma vez por todas de sua vida. Ele que foi-se embora, não podia mais fazer morada dentro dela. Era só de Nascimento, este sim, homem bom e dedicado.

Um odor insuportável começou a ser exalado da lata. Um cheiro de estrume, forte, insistente, foi tomando conta do ambiente e em pouco tempo impregnou toda a casa. Helenita começou a sentir coceiras incontroláveis e, sem conseguir se conter, rasgava o vestido, rolava pelo chão e gritava feito louca por Péris e por Nascimento.

Ao chegar do trabalho, Nascimento toma um susto. Helenita está deitada no chão, com o corpo amarfanhado, repleto de vincos. Parece desmaiada. Ele a sacode com um misto de tormento e serenidade. “Helenita, Helenita, o que aconteceu? Você está bem?” A mulher lentamente abre os olhos. “Meu Mudubim, você voltou!” A frase escapa junto com um sorriso mole. Nascimento retribui o sorriso. Acabara de ganhar um doce apelido da amada.

Ele a carrega no colo e a coloca na cama. Sente um leve fedor, como se fosse um chorume que viesse da cozinha. Vai até lá e vê uma lata preta no chão. O cheiro parece vir dela. Pega a lata e a joga no lixo. Repete baixinho: Mudubim. E dá mais um breve sorriso, iluminado pelos primeiros raios de sol que anunciam o amanhecer pela fresta da janela.

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sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Na Linha Tênue

Adoça o sangue que me corre incontestável promulgando mais que simples pureza
Abraça o tônus primazia realeza senti medo de te ver em outros braços
Mais que isso decidi ser submisso num tempo em que isso é para lá de perigoso
E jorrei um sorriso esperto que te fisgou por alguns dias e depois ficou disperso
Nossa trama envolvente demasia onde ondas e soluços predominam em sentido
Gasto sentido dos dias das noites das formas que me sirvo num direito que não possuo
Conclusão precipitada um calor quase denso está tendendo a pasteurizar-se
Tornar-se ralo sem culpa sem vício extermínio térmico resoluto impalpável ser que me habita
Possível troca sem receio que ficou abandonada morta nos recônditos itinerantes
Selenitas voadores parasitas no meu corpo meio sujo meio aquilo um nojo mesmo levitando
A paixão que me provoca dá uma tosse dá uma tosse que eu me expurgo me resvalo lentidão
Compressor descarrilado magoando serenando ora um ora nada infame nome que me resta
Lista toda orla exalta o que me apetece falta dita tudo o que me atesta a solidão
Tenho nesgas de felicidade remota truculenta ácida fomenta minha fome de viver é só vaidade
Veja que imensa coragem revelar-me para quem me ler montar-me depois quebrar-me novamente
Atitude alvoroçada de um hipotético castigo amizade que não voa súdito recomeço
As velas e as ruas e as pedras e as mãos e a condição divina e tudo o mais acima de Deus e do mundo
Acima de Deus ninguém acima do mundo todo mundo e acima de mim alguns
Acima de alguns muitos acima de muitos quase Deus e acima de quase Deus quase nada
Acima de quase nada tristeza, surdez, compaixão, discursos mórbidos, discursos mórbidos
Vi a face daquele que me orienta me convidou para dançar mesmo sabendo que não sei
Estava só me divertindo eu juro que não fiz nada de errado não me cobre isso agora eu não quero morrer
Será que eu amei a todos agora não dá tempo preciso correr mais que o tempo para ser salvo
Um segundo um perdão o que preciso o fim é belo o belo é flutuar promiscuidade de rememorações
O absurdo a surpresa a delícia o gozo o pavor a desconfiança o nojo a volúpia dá em mijo
Mas que líquido quente saboroso minha pele se deleita com a urina nem mesmo sei se mijo é mijo
Um chocolate ou uma calda de morango hidratante glacê pasta de carinho tudo amarelo
Meu andor um carrasco agora não por favor me deixe ir não torça não me bata não me aborreça
Idiotas de plantão de jaleco estão rindo de mim eu enlouqueci eu enlouqueci eu vi o umbral
Eu quis ser gay eu quis ser trouxa eu fiz amizade com bandido e dancei ciranda
Eu levei o meu amor comigo não eu deixei o meu amor na Terra e lá sexo é coisa que só tem na cabeça de quem morre
Decididamente não tenho mais carne vem comigo para eu te contar a história mais bela da noite
Cada cão tem um latido o vento o copo o som da luz a vida é etérea eu sou estéril tenho muito a
aprender
As descargas me fatiam percebi mais uma coisa outra coisa logo veio vou dormir um pouco
Nossa quanta esperança ironia não te deixo por nada deste mundo agonia também não
Egoísmo que chatice não sou máquina de lágrimas sei... não... pára... assim dói
Bate em outro portal dos tesouros eu morri vou te contar me deixa sair preciso sair
Fica mais um pouco doente louco daqui a pouco chega o doutor tua cama tem dendê
Minha genitália absurda bunda peito ela atrás do pano com um negro engano eu vivo
Vocês não sabem não vêem a paz voltou durmo em pé de alcance niilista como posso acreditar
Cinto de amarras dulcíssima coroa cadavérica pessoa uma recaída que me deu
O nó que está no meu cérebro acho que fiz o que pude tolice minha amiga séria contato sério
Vesgo sorrateiro vapor beirando a situação mais subliminar do século que vivi em horas
Cascos quebradiças cortinálias acintites luanosas fibradeiras abjetos de boa e de má vontade
Morro de vontade de te ver morro de vontade de te ver morro de vontade de estar contigo
Amanhã será a vez de algum destes que projetam mais do que sabem e se auto-intitulam raposas
ceramidas
And brick hall jungle fill the blanks inside of me don’t leave me high é tudo Albert Camus
Adereços de Eliot não gostei de Lee Jones e quem te disse que bom mesmo é Bergman e Munch
As velas e as ruas e as pedras e as mãos e a condição divina e tudo o mais acima de Deus e do mundo
Acima de Deus ninguém acima do mundo todo mundo e acima de mim alguns
Acima de alguns muitos acima de muitos quase Deus e acima de quase Deus quase nada
Acima de quase nada tristeza, surdez, compaixão, discursos mórbidos, discursos mórbidos.

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