A velha na grama
Amor, eu te agradeço. Por me habitar sublime. Por me arrancar da cama. Por me mostrar semana possibilidades. Vem assim, chama e quintal – feira de tomate e carne. Vermelho, vermelho é o amor. Que ignora os termômetros, que atrasa o juízo para dar um passo a mais para a alma perneta. Sou aleijado, sou a febre do futuro. E tenho medo porque de santo não tenho nada.
E de santo não tenho nada porque cada luz é um tormento. E como Adoniran cantou: de vez em quando a luz da Light pifa e a gente apela pra vela. E muitas vezes o jeito é sambar no escuro. E entre amarelo-branco e trevas, cada dia me visita, faz sacolejo.
Hoje eu vi uma velha deitada na grama da capital. Parecia uma rainha, uma deusa engelhada. Grama e velha secas pelo castigo do sol, pela aventura de se expor ao tempo como um desejo ausente. A velha cocegava na sola do pé do meu olho que, sem reflexo, dormia, mas nem por isso eu deixava de ver. E era como se toda a secura dormisse junto, numa espécie de solidariedade insana. E eu me vi poste apagado, sem vela e sem velha. Fui pra casa e chorei.
Eu penso que a vida é uma arte. Uma arte cheia de amor. E amor é graça, brandura, mas também é tristeza. Amar é ter coragem de ver, saber que o choro não representa o fim de nada. Apenas molha a terra da alma, para que faça brotar o sentimento do mundo.
Marcadores: Camada fina de metal sobre o espelho, Canções, Impressões
13 Comentários:
A maioria das pessoas acha que chorar é sempre tristeza... mal sabem as pessoas que as lágrimas de alegria que brotam e rolam, molham o chão como chuva abundante...
Lindo demais seu texto.. brotaram lágrimas de alegria aqui.
Beijo
Guto, honey, que texto é esse? Uau. Demais demais demais. Amei mesmo!
Tudo perfeito nele.
Caramba! Texto mais lindo esse, Guto! Lindo demais.
Beijos
Fabuloso, rapaz.
As lágrimas, infelizmente, são associadas a tristeza, o que é uma pena.
Lágrimas de felicidade são mais belas que alguns sorrisos!
Abração!
O seu comentário no Balaio (grato pela visita) chamou-me a atenção. Curioso, vim dar uma olhada no seu blogue. E gostei do que vi, do que li. Uma escrita correta, sem cair no lugar comum. Temas interessantes, nada me pareceu gratuito. Em outras palavras: voltarei. Um abraço.
Olá! Pelo que ví, a maioria dos comentários elogiam o finalzinho do seu texto... faço coro aos demais, mas devo lhe confessar, mesmo correndo o risco de ser tida como pouco inteligente, mente pequena e tals, que eu não consegui entender o seu texto... só o último parágrafo... estou com vergonha de admitir... eu bem poderia ter ficado na minha, sem comentar, mas, sei lá, deu vontade...
Voltarei mais vezes, ando precisando de uma boa leitura, e aqui já ví que encontrarei...
Oi Moacy, pode se aprochegar. Gd abraço.
Ô Mineira, é porque eu escrevo correto e penso torto. Mas quem sabe você voltando se acostuma.
Num sei comentar, num consigo. Fico abestada, sacumé? É bonito demais, demais, demais. Melhor agradecer o privilégio de ler essas maravilhas. Beijo
Guto, estou voltando sempre, adorei seu blog!
Estou me deliciando com seus textos...
Como lhe disse antes, eu bem que estava precisando de uma boa leitura, e encontrei aqui!...:)
...
Guto,
"Amor, eu te agradeço
por me habitar sublime".
Belíssimo!
Tanto, que até me deu vontade de perguntar, inocentemente:
Você se refere ao amor do outro (dela) que te habita vindo de fora, ou ao amor-sentimento que já nasceu dentro de você mesmo?
Abraços, flores, estrelas..
.
Edson, o texto fala de um transbordamento e da vivência amorosa do ato de olhar.
Isso.O amor, as lágrimas....sentimentos que brotam, germinam e fazem germinar.
Lindo o texto.
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