Duvi-dê-ó-dó!
Vez por outra Zito Corrente é comparado a um desconhecido. Fulanos e sicranos e beltranos da vida anunciam aos alísios que ele tem a cara de um tal Ricardo, o jeito e o modo de falar de um Albuquerque Prado, que é igualzinho àquele amigo bulhufas ou sem tirar nem pôr como Armandinho Rouxinol. Sente-se o tipo mais comum da face esplêndida deste planeta ou, pior hipótese, um pitecantropo ordinário – algo como macaco de imitação quase homem. Um tanto amuado e solitário, Zito cogita umas pitadas em fumos feiticeiros e, zoado do espírito, levar um lero bruxo para tentar esclarecer em que furo da evolução ele se situa.
Vai então ao Terreiro do Pai Joá, o pai-de-santo mais badalado das redondezas, para uma consulta. Em meio ao gesso das estátuas e à iluminação pálida, Pai Joá figura volumoso, gordo de não caber em si. Ele incorpora o espírito de Darwin, que com voz encrespada solta pausadamente: duvi-dê-ó-dó!
O espírito prossegue
- Duvido que o Ricardo tenha a mania de cheirar os dedos da mão depois de ter cutucado as unhas do pé; que o Albuquerque Prado coma as próprias caspas; que o amigo bulhufas de quem quer que seja lamba perebas como quem se lambuza na papaia e que o Armandinho Rouxinol faça bolinhas de remelas e cravos com tanto prazer e glória.
Zito Corrente arregala os olhos. Ele está arruinado com tanto atrevimento exclamativo, com tanta revelação. Deixa o terreiro e dá início a uma mudança radical em sua vida. A partir de então, começa a anotar todos os suspiros, chispas, entrecortes, prestar atenção no mínimo movimento de cada coisa, na mínima ziquizira. Torna-se poeta e casa-se com Lúcia Pitélia, mais conhecida como Xodozeira.
Hoje acredita que esse papo de igualzinho é um modo de exercício coloquial da ingenuidade. Tem outras assimilações do saborodor das lâminas córneas, da polpa de secreções, das películas escamosas, feridas imprecisas, afecções sebáceas, da espessura das crostas. Acredita também na chuva miudinha, no folhelho fino com que se enchem os colchões e nas maisventuras do viver. Tudo é farinha da terra, de guerra, de pau, de rosca. Vitamina branca e fina para a escrita. Fé no sentimento e na palavra, que vai para o papel com a tinta da entrega.
Acredita igualmente no amor de Xodozeira. Com ela, montou um lar, família e teve doze filhos. Nenhum deles se parece com Zito. E a primeira palavra que todos eles aprenderam a falar foi duvi-dê-ó-dó.
Marcadores: Histórias e invenções, Pequenos descontroles
15 Comentários:
Esse Zito acredita em tudo...coitado. 12 filhos do pai-de-santo só mesmo de uma Xodozeira assumida.Mas ele fez por merecer? Eu não duvi-de-o-dó!
Ei, Guto, aparece no BLOG NEWS pq agora estou contribuindo com contos naquele espaço.Ok?
Esse Zito casado com 12 filhos nenhum parecido com ele...Duvi-dê-ó-dó!
bjs
essa expressao é otima. bj bela
Esta expressão é usadíssima aqui nestas bandas de Minas.
E qdo ela aparece é porque a gente duvida cum força.. rsrs
Ultimamente eu tenho visto jornais desse jeito.. sentada na frente da TV.. e dizendo o tempo todo.. duvi-dê-ó-dó!.. que dó!!
Beijos
Não consigo pensar em nada mais apropriado do que um sonoro "Duvi-dê-ó-dó"...
=*
kkkkkkkkkk Adorei, expressão que uso seguidamente rs
Beijos
Eita Xodozeira danada! Pobre Zito... porco que só ele.
A expressão Duvi-dê-ó-dó era muito utilizada pelos mais antigos.
Agora... Ser confundido é uma coisa que realmente é muito chato.
Abração.
Vixe! Mas esse Zito tem que abrir o olho, rs. Abs.
Ainda bem que não nasceu nenhum gêmeo da língua plesa que troca o d por t e f por v: tu-fi-to-tó !
o caminho das motocicletas está complicado... duvi-de-o-dó que eu te responda a curto prazo.
O tempo, apesar de infinito, é cíclico, ou tudo que traz com ele...
Guto,
Duvide, mesmo!
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Abraços, flores, estrelas..
.
Ô Guto, nem sei se sua intenção foi fazer graça. Mas, pra mim, fez.
Ri a cada uma das expressões fora do comum e tão dentro do contexto.
Du-vi-dê-o-dó lembra demais um tempo meu que já foi e deixou lembranças e gostosuras.
Beijoca.
Ô Lidiane, você sempre muito simpatica. A graça é uma das intenções. Existem outras. Duvi-de-ó-dó é uma expressão que meus avós usavam bastante. Essa coisa de nomes engraçados era algo que meu pai também fazia muito. Tenho essas lembranças da infância. Então, o texto acaba sendo um córrego para uma memória de um tempo feliz e divertido.
Bjs pra você.
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