quinta-feira, agosto 27, 2009

São tantos e nenhum

Vinícius (o de Moraes) certa vez disse que, embora não se considerasse um ser deprimente, tinha na tristeza um combustível para a criação. Este mesmo homem afirmou que Marilyn Monroe foi um dos seres mais lindos que já nasceram. Se só existisse ela, já justificaria a existência dos Estados Unidos.

Lygia Fagundes Telles não admitiu ser pessimista, pois este é um mal-humorado. Dá graças a Deus por saber rir de si mesma. Isso não costuma acontecer por aqui, na capital. E a ausência desse riso de si, tão sábio e revelador, leva as pessoas a se esgotarem rapidamente. Sim, sou mais das pessoas do que dos lugares, mas via de regra as pessoas mimetizam os lugares. Então, dá na mesma. Quero ser amado em Ipanema, agora, agora. Salve-me Millôr com sua pílula antialérgica.

Jacques Klein, brincando de ser ou não ser, cogitou ser escritor, caso não tivesse sido pianista. Nunca o vi tocar, nem em vídeo. Eu tinha recém-completados oito anos quando ele morreu, em pleno auge, comandando a Sala Cecília Meireles. Mas dizem que possuía mãos preciosas. E deviam ser, já que eram seguradas. No meu caso, sou nada. E se não fosse o nada que sou, seria algo nada parecido com este nada de agora.

E o Ferreira Gullar? Nele o poema é quase sempre despertado por um choque emocional. Quando, por exemplo, escreveu versos sobre o Vietnã, a coisa nasceu assim: notícias sobre a guerra lidas no jornal; feira de frutas e verduras em frente à sua casa. Deu-se o choque: em um país em guerra, é impossível planejar a vida, impossível ir à feira.

Voltando ao nada, deixo o último parágrafo para Jece Valadão, ator que detestava ser ator. Antes do cinema, o que você fazia? Absolutamente nada. Pois qualquer coisa que eu tenha feito é nada. É o que ele pensa.

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