Paredes derretidas
Acendeu a lâmpada, com viva esperança. Acendeu com classe, com o estalar das horas o animando, a ponto de não saber mais marcar o tempo. O relógio tornou-se nada, pois a luz que viria daquela manga de vidro roubara todos os seus olhos. Foi um simples acionar de botão, um disparo automático do dedo. Mas o ambiente permaneceu escuro. Não, a lâmpada não estava queimada. Tratava-se de um borrão da imaginação.
Decidiu então plantar uma árvore. Semeou com semente encontrada ao acaso, quando passeava pelos vãos de outras árvores. Logo viu o tronco se fazer robusto, as ramificações se insinuando como mãos dançarinas. A árvore cresceu rapidamente e ganhou altitude respeitosa. O semeador promoveu uma festa, chamou todos os amigos, escancarou a janela. A exibição daquela arte que brotou da terra seria um determinante máximo de vida. Todos em seus postos, ela não estava lá. Com os olhos cheios de sobressalto, o semeador dirigiu-se a um senhor que o ajudou a regá-la. Arrumou uma trouxa de raízes e foi-se embora para outro solo - disse o homem.
Decidiu então plantar uma árvore. Semeou com semente encontrada ao acaso, quando passeava pelos vãos de outras árvores. Logo viu o tronco se fazer robusto, as ramificações se insinuando como mãos dançarinas. A árvore cresceu rapidamente e ganhou altitude respeitosa. O semeador promoveu uma festa, chamou todos os amigos, escancarou a janela. A exibição daquela arte que brotou da terra seria um determinante máximo de vida. Todos em seus postos, ela não estava lá. Com os olhos cheios de sobressalto, o semeador dirigiu-se a um senhor que o ajudou a regá-la. Arrumou uma trouxa de raízes e foi-se embora para outro solo - disse o homem.
Sua próxima tentativa foi abraçar as paredes de casa. Ficou meses em busca de um jeito. Primeiramente, esticou os braços, depois o corpo inteiro, tudo bastante inútil. Comeu demais, engordou um pouco, afastou alguns objetos. As paredes ali, paradas em sua função. Descobriu, então, uma técnica especial para derretê-las. Moles e mornas, poderia abraçá-las. E assim foi feito. Este homem passou a ter o peito repleto de felicidade, porque agora poderia viver com paredes derretidas em seus braços.
Imagem – Jean Michel Basquiat, sem título
Marcadores: Camada fina de metal sobre o espelho, Esboços atrevidos
1 Comentários:
Minha mãe sempre dizia que eu tinha mania de querer abraçar o mundo inteiro. E eu bem que tentava. Devia ter conhecido antes essa técnica do derretimento...!
Verdade, Guto... provavelmente viveríamos angustiados com a certeza da invenção dos anjos e dos deuses. Prefiro a dúvida. Ela me abre portas e me traz a rica possibilidade da fé...
E a dança da solidão provavelmente vai continuar, por muito tempo, a ser a mais difícil de todas as danças...
Beijos e boa semana!
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