O diário dos homens obsoletos – parte 2
Eu me separei dela ainda gostando, mas era muita terra para o meu fogo pátrio. A sua tamanha necessidade de ser útil e de me proteger como se eu fosse o mais idiota dos homens; a sua míngua de sabedoria a trotar sobre o meu coração curioso, leve e, de certo modo, infantil. Jamais poderíamos nos ajustar, apesar de um dia eu ter me incendiado com aquela pele. Apesar de nosso pequeno rebento, que agora se diverte por ter duas casas.
Ontem foi meu aniversário e eu liguei para ela três dias antes para derramar meu singelo convite. Vai ser no boteco do Zé Amâncio, quero o churrasquinho do Zé Amâncio. Três dias, ela nada disse. No dia mesmo, liguei novamente, buscando confirmação.
- E aí, você vai?
- Ah, Pedro Augusto, sei não... Se você fosse comemorar em algum restaurante bacana, mas lá no Zé Amâncio... Aquilo é lugar pra se comer decente?
- Eu gosto. É simpático.
- Pois você vai me desculpar. Eu tenho umas pizzas congeladas aqui em casa, esquento-as no forno, almoço por aqui. Te dou os parabéns pelo telefone mesmo.
Não foi necessário mais que um breve contato para que, movidos por enorme vontade, desligássemos. As pizzas congeladas ainda ressoavam em meus ouvidos. Elas realmente devem ser bastante úteis nessas horas.
Marcadores: Histórias e invenções
11 Comentários:
Putz...
Tem coisas que as mulheres não entendem. Um bom e simpático boteco, com um ambiente agradável, vale mais do que um restaurante refinado. E tenho dito!!!
E essa de fazer pizza em casa, e dar os parabéns pelo telefone foi descortês total, mesmo que não rolasse mais nada. Enfia a pizza no... Deixa pra lá.
Abração.
Entre o um e o dois existe algo que não é diário.
ahhhh eu heim.. pizza congelada tá por fora.. bóra no zé amancio...
(existe mesmo? to indo ai... me conta? rsrs)
E o aniversário é de verdade?
beijo
Não Erika, o diário ds homens obsoletos reúne histórias minhas, de amigos e outras inventadas, além de misturas de coisas existentes com as inventadas. Meu aniversário também é só em outubro. Mas o papo que rolou, o papo foi bem esse.
Alegre homem, sua matemática é tão entrenúmeros... Gosto destas figuras misteriosas que aparecem de vez em quando. Volte! Vou fazer reza e aquecer uma bebida pra nós.
Desencontros geram encontros.
E vice-versa.
Umas vezes prefiro o boteco. Outras a pizza, mesmo congelada.
É a vida. abs,
Guto, separar ainda gostando dói tanto.
"guardo é na memória da minha pele..."
Beijo,
Martha
PS: Fiquei contente de vc dizer que Mori é feliz. E é mesmo. Para ela só existe o presente, se adaptou bem a cegueira.
Sim, separar ainda gostando dói. E demora a passar. Bonito texto. Ri com seu comentário sobre falir tomando sorvete. Fiquei pensando que as pizzas congeladas derretem ao forno, já os corações, quando esfriam, tornam-se mais distantes. Abraço.
Pois é, Guto.
Esse negócio de proteger e ser útil é comigo. Mas, sério... estou planejando acabar com isso.
E pizza congelada frustra. Parabéns pelo telefone machuca,mas a vida continua.
E quem já não fez isso?
E que nunca sofreu com uma coisa assim?
Tô sabendo do aniversário em outubro; mais próximos e comemoraríamos no Zé (o meu também está chegando).
Abraço!
Guto,
você sempre tem o que dizer.
E sabe como.
Teu texto encanta, ins-pira.
Abraços, flores, estrelas..
.
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