Vínculos em borrão
Na solitude, qualquer coisa viva é bem-vinda. A pele sabe porque sofre o incômodo de uma carne ranzinza, que teima em não queimar. Um risco de dor, angústia, medo ou sonho. Um modo de escapar, ainda que orientado por uma luz rala, fadada a se apagar. Uma prótese-fósforo forjada como uma ilusão sincera, feita para parir instantes mortais. Na solitude, o acesso à memória é um castigo indesejável; o corpo, simultaneamente um motivo de fuga e uma via de retorno para amparo próprio.
As manifestações de luz sobre os objetos se modificam a cada segundo. A apreensão da realidade também. E nessa mutabilidade incessante mora o desassossego. A procura por negar, esquecer, omitir para manipular sensações destemperadas. Entortar o que traz o desejo de aniquilar e erigir um corpo não-capturado. Daí, estar aqui - para os olhos de quem quiser ver - como fotografias do conflito em caráter não-indicial. Estar aqui a dizer: é possível fingir tudo, mas há qualquer coisa de verdade no fingimento.
*adaptação de texto escrito por mim para o trabalho Risco de Desassossego, de Rodrigo Braga (2004).
Marcadores: Impressões, Quase poemas
1 Comentários:
Fiquei bem impressionada com estas "impressões" !
Vim aqui para te agradecer a visita feita em tempos ao meu blogue (penso estar em falta) mas não resisti a ter aquilo que se depois mostrou ser, um bom momento de leitura. Obrigada por isso também.
O tempo não tem sido meu aliado nestes últimos tempos e só agora a dar uma volta na caixa de comentários vi que tinha este e mais uns quanstos em falta. As minhas desculpas.
Volta sempre, penso que não tarda a que volte a ter tempo para retribuir as vossas gentilezas.
Um beijinho
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