Tartaruga imigrante
Ela passeia imóvel pela cama de hóspedes. Parece ter feudos nas patas, de um verde espinafre, com estrias delimitando fronteiras. Um pedaço que lembra a Hungria a imagem e semelhança de um morcego; outro com contornos de uma lasca de barra de chocolate partida com a mão logo após ter saído da geladeira. A tartaruga, sobre a colcha, não reclama, não esperneia; só confunde os traços, acena e adormece.
O bom de viver lenta é poder parar totalmente sem ser notada. Suas patas brilham a história digna e indigna, a múltipla ignorância, a vassalagem de quem não sabe se é réptil de água ou de terra e que, por ter morado muito tempo em quintal de cimento, dependeu da alface que vinha da mão de um garoto maneta para se manter. Hoje vive em cima de uma cama macia, preparo quente para receber os amigos.
Seus cascos impressionam, esverdeados também – diferente das patas. Não são o espelho do espinafre, estão mais para uma arara multicolorida que de tanto bater e pousar asa ficou verde. E é assim que a bela imigrante festeja o modo como carrega os territórios desunidos e as transformações plutônicas: exibe-se.
Marcadores: Histórias e invenções
5 Comentários:
nunca vi uma tartaruga com tantas formas como agora.
beijos
Guto, muitas vezes me sinto lenta como uma tartaruga. As marcas no corpo, ao invés de lugares, são passagens.
Umas mais doces, outras selvagens, outras tantas tão remotas que já nem lembro mais.
Beijoca.
Uau!!! Nunca havia olhado para uma tartaruga desse jeito.. rss
Por isso que tantos de nós muitas vezes não percebemos muitas coisas das tartarugas.
Abração
ah se fosse só uma tartaruga .....
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