sábado, fevereiro 27, 2010

Amém, estupidez!

Toda essa história de BBB só estampa em cadeia nacional o quanto somos indivíduos malditos, incapazes de “sofrer” o outro. São postas em uma vitrine pessoas de egos endurecidos, que passam meses cultivando discórdia como estratégia de vitória. Elas lançam mão de fofocas, intrigas, e tentam emplacar as ofensas mais eficientes. Tudo para o deleite de um espectador, o poderoso iludido que imuniza, condena e decide destinos. Perfeito: vamos dizer que virtudes devem ser jogadas no lixo e que dinheiro deve ser ganho de modo canastrão.

Mas se por um lado o BBB explicita a pobreza humana, por outro oferece uma experiência estética, ainda que de mimese literária. Sim, pois cada candidato ao milhão e meio desenvolve uma narrativa no jogo com o objetivo de se contar para o público. Como artifícios de narrativa, vemos os sofrimentos injustificados, jogos em torno do ato de testemunhar, simulacro de resistência e superação, ódios contidos, euforias programadas e mais um arsenal de truques e manhas. O diferencial na escrita poucos conseguem: o faro para captar centelhas que possam iluminar a trajetória dentro do programa. A Angélica mesmo saiu porque foi ruim de olfato.

Ao que tudo indica, o Dourado vai levar o prêmio desta edição. Não sei por que cargas d’água milhões de brasileiros vão acabar fazendo de um estúpido, um milionário. Não entendo muito bem essa escolha por premiar a afirmação de idéias retrógradas, o autoritarismo, a falta de tolerância... Dourado pede respeito, mas não dá. No fundo, ele quer reverência. Seus súditos são milhões de tolos assumidos.

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sábado, fevereiro 20, 2010

O retorno 2

Depois de tanto tempo sem escrever aqui neste espaço, fiquei em dúvida se deveria retomá-lo ou se seria melhor criar outro blog e sepultar este. Decidi pela primeira coisa porque se o Mercúrio e Luxúria fosse extinto, seria como se o blog tivesse definhado. E uma das coisas que mais me aterrorizam nesta vida é a imagem de algo se definhando. Não queria ter esta mirra, esta feiura lenta e contínua associada a mim.

O ano passado foi extenuante. Houve o câncer da minha mãe, a instituição em que trabalho foi foco de uma CPI na Câmara dos Deputados, um acidente de carro sem vítimas, meses depois o furto do veículo, o assalto à minha mulher às vésperas da filmagem do seu primeiro longa (o filme está em fase de montagem), o meu CD caminhando como um cágado... E assim foi o ano...

Em 2009, por mais clichê que possa parecer, ficou em mim a impressão de ter vivido mais tempo. Após sua passagem, me senti mais forte e ao mesmo tempo desejoso de descanso. Que 2010 seja um ano mais tranqüilo! – mentalizei à meia-noite do dia 31 de dezembro, enquanto o estampido dos fogos ao longe ilustrava o meu anseio mais íntimo de então: estampidos distantes! Sim, eu quero os estampidos distantes!

Depois de todo o cansaço emocional, além de descanso, necessito de novo vigor. Reside aí, mas não só, o impulso para ressuscitar o Mercúrio e Luxúria. Durante algum tempo, este blog me refletiu de um modo muito apropriado, apesar de os posts não tratarem diretamente de aspectos da minha vida. O que há para trás, no arquivo, é poesia, fantasia e, digamos, uma literatura rascunhada. Daqui para até não se sabe quando, o que vou postar será a minha voz sem o “disfarce” da figura do escritor como instância narrativa. Acho que esta segunda etapa vai ser mais filosofia.

Abaixo, o primeiro post da volta. Vou procurar postar toda sexta ou sábado.

Um grande abraço aos que voltarem por aqui e aos novos que chegarem.

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Tempo: intuição e oração

Gaston Roupnel (1874-1946), um historiador e escritor francês, defendia a ideia de que a realidade concreta do tempo é o instante. Para ele, o que de fato importava era o presente, pois via o passado como sombra e o futuro como incerteza. Roupnel também acreditava que a sucessão de instantes conferia o sentido de duração, manifestando assim uma visão linear do tempo. O caráter de urgência que imprimimos às tarefas mais banais, o tal dito para que deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, o espírito hedônico que manifesta constante relutância em adiar o prazer e outras condutas ditas contemporâneas mostram que, de um modo geral, o conceito de Roupnel continua atual, pelo menos quando observamos o mundo em termos práticos.

Bachelard, que era amigo de Roupnel, desmonta esse pensamento para ampliá-lo de modo muito cativante em sua obra A Intuição do Instante. Para Bachelard, por não sermos capazes de acessar todos os instantes de nossa trajetória, muito de nossa vida se apaga, proporcionando um rompimento do ser e um sentido de descontinuidade do tempo. Vai além, ao dizer que por vivermos presos ao instante acentuamos a nossa solidão, pois ao nos voltarmos para o passado nos deparamos com o abandono dos acontecimentos esquecidos; já o futuro, sendo um conjunto de instantes desconhecidos, tumultua a nossa esperança. O resultado disso no presente seria uma solidão mais profunda.

O pensamento me encanta por sua poesia e sofisticação, e creio se aplicar ainda às nossas crises de ansiedade, pois nossas expectativas também são instantâneas e, portanto, marcadas de fugacidade. Reside aí a base de nosso medo vago: tudo é assumidamente transitório, mas a vivência do tempo como algo linear é permanente. Ao cometermos esse erro, diria mesmo que se trata de uma estupidez, vamos sedimentando uma imensa barreira em relação ao tempo. Como conseqüência, suportamos mal a sua ação sobre nós, temos dificuldade em envelhecer, com manifestações do acaso, em aceitar o ritmo próprio do que a vida nos oferta ou simplesmente em sair da rotina, o que nos impõe ocupar o tempo de maneira não esquemática.

Ontem, um amigo me perguntou o que vou fazer amanhã. Eu respondi “não sei, talvez fique em casa”. Ele me falou de festas e eventos na cidade e disse que ficar em casa não era programa, mas sim perda de tempo. Eu disse a ele: meu amigo, o tempo já é perdido.

Abaixo Oração ao Tempo, uma canção de Caetano Veloso de que gosto muito. De quebra Fernanda Motta pinta o artista.






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terça-feira, fevereiro 16, 2010

O retorno

Ando com vontade de retomar o blog. Mas antes de voltar a escrever aqui, devo dizer algumas coisas:

1 - Brisas e Foguetes é um esboço que poderá ter continuidade (e reparos)
2 - O CD... Meu Deus, tanto rolo aconteceu. Bem, tudo está mixado, quero fazer ajustes de automação, principalmente na minha voz. Mas o sujeito responsável pelo trampo sumiu.
3 - Estou com muita vontade de voltar a escrever.

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