Amém, estupidez!
Toda essa história de BBB só estampa em cadeia nacional o quanto somos indivíduos malditos, incapazes de “sofrer” o outro. São postas em uma vitrine pessoas de egos endurecidos, que passam meses cultivando discórdia como estratégia de vitória. Elas lançam mão de fofocas, intrigas, e tentam emplacar as ofensas mais eficientes. Tudo para o deleite de um espectador, o poderoso iludido que imuniza, condena e decide destinos. Perfeito: vamos dizer que virtudes devem ser jogadas no lixo e que dinheiro deve ser ganho de modo canastrão.
Mas se por um lado o BBB explicita a pobreza humana, por outro oferece uma experiência estética, ainda que de mimese literária. Sim, pois cada candidato ao milhão e meio desenvolve uma narrativa no jogo com o objetivo de se contar para o público. Como artifícios de narrativa, vemos os sofrimentos injustificados, jogos em torno do ato de testemunhar, simulacro de resistência e superação, ódios contidos, euforias programadas e mais um arsenal de truques e manhas. O diferencial na escrita poucos conseguem: o faro para captar centelhas que possam iluminar a trajetória dentro do programa. A Angélica mesmo saiu porque foi ruim de olfato.
Ao que tudo indica, o Dourado vai levar o prêmio desta edição. Não sei por que cargas d’água milhões de brasileiros vão acabar fazendo de um estúpido, um milionário. Não entendo muito bem essa escolha por premiar a afirmação de idéias retrógradas, o autoritarismo, a falta de tolerância... Dourado pede respeito, mas não dá. No fundo, ele quer reverência. Seus súditos são milhões de tolos assumidos.
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