domingo, outubro 07, 2007

O veneno da serpente



A felicidade escapa. Esse negócio de sermos felizes para sempre, de consumir esforços para que tudo fique bem a todo instante foi um dos venenos burgueses que aplicaram aos nossos dias. Desde quando a felicidade passou a ser um dever? Se somos obrigados a ser felizes permanentemente, a felicidade passa a ser uma tirania. E uma concepção opressiva de nossa fortuna só nos faz desconfiar do acaso, desenvolver o auto-engano em relação ao bem-estar e projetar nosso contentamento para longe de nós.

Por a felicidade ter se tornado simultaneamente cárcere e vedete em nossa sociedade, planta-se em nós a base de um duplo tormento. Como estamos praticamente condenados a ser felizes, a ostentar uma alegria, ainda que falsa, para afirmarmos ao mundo a nossa normalidade, silenciamos acerca de nossos sofrimentos. E ao calar sobre nossos males físicos e psíquicos, nos tornamos algozes de nós mesmos. Tal silêncio serve como resposta a um desejo externo, mundano, de nos manter traiçoeiramente felizes.

Ilustração - David Revoy

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6 Comentários:

Às 10:12 AM , Anonymous Anônimo disse...

se felicidade for obrigação, eu to fora de ter.. rsrs

beijos guto. saudades. beijos em lady jane

 
Às 3:36 PM , Blogger Lidiane disse...

Guto, apesar de tudo. Apesar da obrigação so sorriso, apesar do dever da leveza, o que eu mais queria, honestamente, era deitar rindo no travesseiro, brindando o cotidiano cor de alegria.
Por mais brega, mais demodê e mais clichê que isso pareça.

Beijo.

 
Às 8:39 PM , Blogger Fernanda Passos disse...

Nada existe permanentemente, tudo é devir, contradição. Mas tua análise é correta em afirmar essa imposição - pelo sistema - de uma "constante" felicidade. Um engodo! Pena que nem todos consigam perceber isso.
;)

 
Às 4:14 AM , Blogger Márcio Hachmann disse...

Vou pensar sobre isso.

 
Às 11:14 AM , Blogger A Lei da Rolha disse...

Esta sociedade é um circo de vaidades, com muito aparato à mistura e muita falsidade!
Obrigado pela tua visita
abraço

 
Às 12:04 PM , Anonymous Anônimo disse...

Ninguém é uma coisa só durante todo o tempo. Nós somos inconstantes. A felicidade (ou falta dela) é apenas um dos estados em que podemos nos transfigurar. Faz parte do ser humano ser inconstante.
Abração.

 

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