As Rosas Falam
Não é querer imitar a rosa, nem desmerecê-la. A rosa é bonita porque desabrocha e murcha. Não dá a rosa pra ninguém porque só serve pra ele. Egoísmo inevitável que o protege.
Elias é estranho porque sente só pra si, não por desejo, mas por despreparo alheio. Vive de guardar verdadeiras explosões porque do lado de lá o que se assimila é disputa, utilitarismo e um jogo de ir contra que não é nada lúdico. De vez em quando Elias derrapa e diz que chora ao ler um conto de Clarice. Ele se desmonta, com o prazer de se ver mole, entregue, e em troca colhe ainda que secretamente o tapa da desinteressante certeza de que sua moleza não serve. É o trôpego de seus teores.
E foi feita mesmo para não servir. E foi feita rosa não submissa, com fragrância estúpida e nobre. Para ser recusada por ouvidos e narinas. E são muitas as rosas que Elias mastiga; com elas ensaboa a pele e pinga pétalas de cheiro em seus olhos. Rosas sem ensaio, sem vestígios – as flores menos mortas que existem.
Ele mesmo assombrado, queimado pela tocha do desassossego, não pode se separar dessas flores. Quando umas perdem a chama, outras nascem; também não ousa exaltá-las, para que elas não o persigam. Basta que o habitem. Já pensou muitas vezes em jogar todas elas fora, no lixo, sem ao menos embrulhá-las. Dar-lhes um fim triste, por teimosia, medo ou vingança. Pois as rosas que tem o revelam demais, descortiçam o abominável, a suprema essência da qual não se escapa. E Elias vira um garrancho, um borrão vivo, besta por se reconhecer mais uma vez principiante.
Elias é estranho porque sente só pra si, não por desejo, mas por despreparo alheio. Vive de guardar verdadeiras explosões porque do lado de lá o que se assimila é disputa, utilitarismo e um jogo de ir contra que não é nada lúdico. De vez em quando Elias derrapa e diz que chora ao ler um conto de Clarice. Ele se desmonta, com o prazer de se ver mole, entregue, e em troca colhe ainda que secretamente o tapa da desinteressante certeza de que sua moleza não serve. É o trôpego de seus teores.
E foi feita mesmo para não servir. E foi feita rosa não submissa, com fragrância estúpida e nobre. Para ser recusada por ouvidos e narinas. E são muitas as rosas que Elias mastiga; com elas ensaboa a pele e pinga pétalas de cheiro em seus olhos. Rosas sem ensaio, sem vestígios – as flores menos mortas que existem.
Ele mesmo assombrado, queimado pela tocha do desassossego, não pode se separar dessas flores. Quando umas perdem a chama, outras nascem; também não ousa exaltá-las, para que elas não o persigam. Basta que o habitem. Já pensou muitas vezes em jogar todas elas fora, no lixo, sem ao menos embrulhá-las. Dar-lhes um fim triste, por teimosia, medo ou vingança. Pois as rosas que tem o revelam demais, descortiçam o abominável, a suprema essência da qual não se escapa. E Elias vira um garrancho, um borrão vivo, besta por se reconhecer mais uma vez principiante.
Por todas essas rosas delicadas e descorteses... a sua aceitação está nos mares, nas espumas das ondas. É para a garganta azul e salgada que Elias carrega as flores, em todo o corpo e em todo espírito. É por isso que não dá, nenhuma sequer. Porque um dia entende querer dar todas; porque já disse – outras nascem. E dar todas – e outras nascem – e dar todas – e outras nascem – e dar todas – e outras nascem... E nele, renovação de rosas ser ofício de poeta.
19 Comentários:
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, vc tinha que mencionar a Clarice? Tinha.
Não é o só o Elias não, que vive isso tudo.
Rapaz, suas palavras me pegaram de jeito. E não sou de gastar palavras e comentários á toa: EXCELENTE.
Se eu volto aqui? Ruuuuum!
Não conhecia esse Guto.
E gostei.
Vou ser sincera, li duas vezes de tanta lindeza.
Elias,cheio de poesia, é quase um poema.
Lindo,Guto.
De verdade e sem mentiras sinceras.
Guto, obrigado pela dica. Depois vai no Expurgação e assista o vídeo que postei, hehe. Abração.
Lindo e doce!Rosas não falam?Quem disse?Quando as palavras nos faltam,falam elas por nós.Perfumadas sua letras.Um beijo e linda semana!!!
As rosas são pisoteadas sem dó. E elas sangram caladas para não assustar os brutos.Pois deles podem partir fagulhas que queimam o íntimo da alma. E elas falam, gemem, choram. Mas depois se enchem de coragem e, mesmo machucadas, se fingem de fortes, arrepiam os espinhos, se escondem no outro lado da colina. E vão arrumando as pétalas machucadas, colando-as uma a uma. Mais tarde, com certeza, ressurgirão brilhantes e cheias de vida. Assim deve ser.
Guto:
Retribuí tua visita por curiosidade para saber como você ouviu falar do meu obscuro blog. Infelizmente neste momento, nesta semana estou meio mal. Cosegui entender mais ou menos o teu conto mas precisaria ter concentração, que me falta, mas vai voltar e aí eu volto ao teu Elias e suas rosas.
Obrigada mesmo pela visita.
De tão leve seu texto.. pétalas de rosa estão voando trazidas pelo vento.
Beijos
SAbe, eu tenho uma coisa estranha... Nunca fui lá muito fã de rosas..
Beijos
qual é a cor da rosa?
Quem é que não guarda um Elias bem escondido dentro de si? E quem não se derrete com Clarice? Eu mantenho as rosas sobre a mesa, para que por vingança, elas sejam obrigadas a me aturar, sempre passando por elas com um suspiro diferente.
Muito bom o texto. Poesia diferente.
Prá dizer que não falou de flores...
eu só tenho medo das que vêm sem espinhos.
, "ofício de poeta" que assim seja... e vive com as "rosas sem ensaio, sem vestígios" ...
, agradecido pela visita em quimeras. volte quando desejar...
|abraços meus|
Olá! Obrigada pela visita! Adorei teu blog.
Guto, muito bom texto, leve e singelo como os outros teus que já li. Por falar nisso, depois do vídeo tosco que postei, o post seguinte é completamente diferente, você que também é chegado a letras, leia e dê sua opinião, quero ler o que os outros vão achar dele. Abração.
"Bate outra vez com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão enfim
Volto ao jardim com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar para mim
Queixo-me às rosas, mas que bobagem as rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti, ai
Devias vir para ver os meus olhos tristonhos
E quem sabe sonhava meus sonhos por fim."
Cartola
beeeijo
Ai minha flor de mandacaru!
Uhhh, uhhh, mandacaru!!!
Por que nao:)
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