A melhor dançarina de todos os tempos
A necessidade de engano... As amizades são um modo de enganar com conforto. Sabe aquele amigo que diz “adorei o seu trabalho” para poupá-lo de olhar a incompetência de frente? Porque ele é instruído em fidelidade e afeição, não ignora a inaptidão como uma das mais dolorosas revelações para qualquer mortal. Então, não faz muito sentido pinicar uma pessoa querida com o bico de suas próprias fraquezas. É mais sensato o disfarce, seria indecente não praticá-lo.
Essa proteção voluntária preserva todos da solidão, lógico. Uma premissa imperial que amarra as afetividades, mantém unida a trupe de miseráveis. Assim, fulano passa a ser amigo de sicrano porque o elogiou na semana passada, apesar de ambos não saírem do território da reserva. Os abraços são desfeitos logo após a primeira rusga mais séria, normalmente aquela que compromete a imagem de uma das partes. Mas isso seria em último caso, à roda de sócios não convém ficar quadrada.
Da mesma forma não convém ver a turma dos que bebem uísque com gelo e limão, usam banana como ingrediente de feijoada, dormem em pé no meio de uma conversa animada. No dia em que a vergonha deixar de ser fútil, a confiança nos homens se tornará a melhor dançarina de todos os tempos.
Marcadores: Canções, Crônicas despenteadas
13 Comentários:
Valeu Guto, e obrigado por tua visita. Grande abraço.
Acho que amigo é amigo. Colega é colega.
Entre amigos não tem essa de melindrar, de reservas...
Isso existe com colegas.
Né ?
Menino!!
Esbanjando talento nas letras..como sempre. Muito bom seu texto
Beijos
Oi Claudio, acredito que existem vários níveis de amizade: as mais miseráveis, as casuais, as duradouras e sólidas, as raras... O Nelson Rodrigues, em uma entrevista a Clarice Lispector, radicaliza ao dizer que o amigo não existe. Para ele, essa ausência de amizade é uma verdade intolerável. E complementa: "o amigo possível e certo é o desconhecido com que cruzamos por um instante e nunca mais. A esse podemos amar e por esse podemos ser amados. O trágico na amizade é o dilacerado abismo da convivência".
O post reflete alguns tipos de movimento relacionados à amizade com os quais eu não me identifico. E esta é uma das minhas gêneses: arrancar de mim o que não acredito para me restar mais alegre.
Grande abraço,
GM.
Diga a verdade sempre...
E prepare-se para fugir em seguida.
Esse negócio de muita sinceridade é um perigo. A verdade mata. Às vezes de uma vez só, às vezes aos poucos. O que importa é que esse negócio mata. Então tome cuidado ao usá-la.
A confinaça é, definitivamente a melhor bailarina.
Parabéns pelo concurso, querido, to aqui na torcida.
beijos
esse seu post veio no momento certo...
Fiquei aqui imaginando o caos que seria sem os jogos sociais...
Mas assi caminha a humanidade. E nós que nos "encontramos" assim, meio que sem encontrar, possibilita a forma ideal? Não sei, mas seu texto é muito bom! rs
Bjs
'o que é a vida meu irmão?'
respondi em um novo post. vai lá.
Guto, Guto, Guto.
A melhor, a mais cruel e a mais verdadeira bailarina de todos os tempos é aquela que não sabe dançar. Se veste de solidão e rasga a gente por dentro, quando os sonhos desfacelados, esses sim, dançam como deuses. Porque, meu amigo, eu também só acredito em deuses que sabem dançar. Por isso, hoje e sempre, meu universo é bailarino.
Beijo.
Acho que cada amizade é uma amizade!
Oi Guto,
Obrigada pela visita.
Tenho outra pergunta...
Vc escreve: "E esta é uma das minhas gêneses: arrancar de mim o que não acredito para me restar mais alegre".
Consegues? Como?
(gostei disso)
Beijos
Luciana
Será que a vergonha é futil? Como falar de algo que está meio que em extinção no país. Acho que, hoje, ela é inútil.
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