O beijo e as badaladas
Liberdade e beleza são duas lindas meninas que jamais envelhecem. O tempo passa, cava seus assentos em nossa trajetória, e as duas continuam a soar o toque festivo dos sinos. Blim-blom chamando agudo e grave o retirante que foge à seca. As badaladas vestem as meninas com uma renda bordada de som - ouvi-las no corpo delas: uma delícia dedicada, sempre a propor mais e mais. Ficar tonto das meninas é a melhor embriaguez que existe. Em cada época há regras para estabelecer o que é ou não belo. Já o feio não conhece limites. Pode ser tudo - um olho vesgo, um andar desengonçado, cicatriz grossa de pele mal costurada, a inconveniência, obeso de banhas caídas, banguela de sorriso aberto, a deselegância, o defeito físico aparente, como dedos grudados ou o polidáctilo que deixa em nervos olhos habituados a imagens desinfetadas. Diante do belo, as convenções soam de um sino torturado. O feio escapa e, generoso, oferece a liberdade. Devem existir experiências unânimes em torno do feio, o seu cemitério. Algo tipo ver um rato morto. Mas talvez até um tumor - célula degenerada, monstro de cabelo e pedaço de dente - deve ser visto pelo cirurgião com alguma voluptuosidade. Ali, frente ao corpo que ele rasgou, revela-se o emaranhado da desordem que não aprendemos ainda a desfazer.
Para terminar, gostaria de evocar a imagem de uma menina que cruzou a minha vida por umas três semanas. Ela tinha uma perna mais curta que a outra, um sorriso lindo e uma alegria verdadeira. Deve ter sido essa alegria a professora que ensinou para Lúcia um jeito tão hábil de andar. Ninguém queria namorá-la, recusavam a própria vergonha e não a moça. Um dia a beijei, primeiro na boca. Depois pedi para beijar a perna mais curta. Em um primeiro momento ela ficou tímida, mas acabou deixando. O beijo que dei naquela perna foi uma badalada de renda bordada de som.
Marcadores: Impressões
14 Comentários:
Guto.
Uma vez me perguntaram porque vivia em volta de gente tão feia.
E fiquei me perguntando quem seria essa gente feia. Eu não via.
Hoje entendo o que se passou.
Fealdade mora além do físico.
Eu, que sempre me achei uma moça feia, hoje entendo que minha beleza é ouro de Hermes. E não é pra todo mundo.
Lindinha! Saudade de você!
Cara. Tanks pelo comentário lá na fábrica. A poesia e o poeta [onde realmente estão?] Gostei muito das suas letras.
Abraços!!!!!!!
Nunca seremos capazes de ter um mesmo olhar sobre nada... feiura...beleza?...
Abraços
Tudo depende dos olhos que veem
bj
Que lindo...O mundo precisa de pessoas assim...
Escrevo com os olhos marejados..
Amei...amei...
ps:Muito Obrigado pelas Informações no meu post (A Rosa).
Então aquela música (letra) e de autoria do Otávio de Souza???
Certo!
Abraços
Guto,
O post (Rosa) foi devidamente acertado!
Muito obrigado pelas suas informações!!!
Seu blog também foi linkado no meu!!!
Que lindo.
Não aquela imagem é do Mark Ryden, que é o mesmo que pintou essa do meu perfil e a do template do meu blog =>
Ele é demais e ainda está vivo... oq eu garante que nós teremos mais e mais pinturas dele.
beijos.
Que lindo.
Não aquela imagem é do Mark Ryden, que é o mesmo que pintou essa do meu perfil e a do template do meu blog =>
Ele é demais e ainda está vivo... oq eu garante que nós teremos mais e mais pinturas dele.
beijos.
olha, eu tenho uma frase que uso sempre:
a deformidade é uma forma de perfeição.
afinal, são nossos defeitos que nos tornam únicos. eu tenho tb uma coisa maior que a outra, mas prefiro deixar guardada pra mim e pra quem vier a descobrir...
beijo
ai, ficou parecendo obsceno!!!
na verdade tenho uma orelha maior que a outra, só isso...
Impressões unânimes em torno do feio.... que imagem!
Grande Guto, sempre firme na tua escrita.
Grande-grande
Grande-grande Ed, há quanto tempo! Bom vê-lo novamente por aqui. Grande abraço.
http://maquinadeletras.blogspot.com/2007/11/frases-n-08.html
Eis um pensamento meu sobre a beleza.
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial