Canção da América que não toca na rádio
América! Venha caber nos sonhos que os braços dos homens sejam capazes de levantar. Pois cedo a alma canta, mas para muitos o império se despedaça antes de qualquer vislumbre de esperança. A pedra, a areia, o reboco, todos os deslocamentos urgentes, a fuga da casa hostil. América, perceba a qualidade dos pelejadores que pisam em seu solo ácido, veneno para os pés, e não podem sequer fingir a ausência do crime em seus caminhos. Não por serem incapazes, mas por não possuírem o direito. As suas bandeiras são de grana e posse. Labor e selvageria. Pedem por alento aqueles que não pretendem viver para esquecer-se. A aurora é o riso dos céus, a alegria dos campos. Portanto, América, seus vestidos rogam outras estamparias, mais finas e coloridas, expressão de um pano menos irritante. A pele nossa de cada dia é uma oração golpeada pelo machado do tempo, avessos incontroláveis, expedições inacabadas. Há em suas delícias um quê de perversão. Nas promessas que ventila, armadilhas se tecem. Acreditar é uma exigência de seus dias; ofertar, um refúgio interessado. América, América! Tome tento que a irmandade, o auxílio forte, a gentileza, o abraço acordado – quente ou quase – as mais enérgicas manifestações de solidariedade, são cuspes de sua retórica. E não é porque nos invade que devemos ser tristes em suas mãos. E nem o brilho de toda a tecnologia será capaz de provar que para cada partícula de alma existe um cobertor de lã. A ciência não vê além do binóculo, desperta a sede por cura prudente. No mato, América, existe tanto mistério! Mas a sua marcha avante engole florestas, destrói sabedorias, consome indícios caboclos para cada vez mais fazer fumaça.
América do leite com soda cáustica. América do desacato à soberania em busca de petróleo. América que finge ter compaixão de aidéticos africanos. América que produz diversos rios de corrupção, sem margens e com córregos caudalosos. América que usa moeda e idioma como mecanismos de tortura. América do cacete da polícia na fuça de quem ocupa as ruas para gritar: não somos mais América! América que nos deu o câncer como herança, medo e banalidade. Não queremos nem a pena, nem a punição, nem a glória bandida. Estamos prontos, para o que der e vier, sempre e alertas. Será tão difícil assim ouvir o nosso espírito?
Marcadores: Canções
9 Comentários:
nossa, perfeito! a linguagem, os temas.. adorei!
beijos!
Isso ficou muito bom Guto.Parabéns. Realmente é uma canção que não é tocada nas rádios... Abraços
Muito bom o texto Guto. Que América difícil essa nossa, que ainda é capaz de pensar em feriado e esquecer o significado de tudo isso...
Meu post foi inacreditavelmente curto mesmo! Dois motivos: ando relendo textos antigos meus e resgatando trechos que têm a ver comigo agora. O outro: ando meio irritada até com a net, e quando estou nessa fase, os textos geralmente ficam curtos e espaçados. Mas passa. E são justamente essas oscilações que acabam trazendo o equilíbrio.
Bom, às vezes não...!
Beijos e bom fim de semana!
Olá Guto. Tem um MEME pra você no meu blog. Abraços e bom domingo
Guto.
Nada a dizer, só deixo um beijo.
Querida, obrigado pelo carinho.
Muitas canções não tocam na rádio...
mas gostei da foto que vc colocou.
Meu caro Guto, parabéns pelo seu blog. Cheguei aqui, através do blog do meu amigo Caulus. Gostei do que vi. Sucesso!
Valeu, Pedro. É sempre bom ter gente nova por aqui. Volte sempre.
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