sexta-feira, janeiro 26, 2007

Baia em Obra

Certa vez Adoniran, cansado de sua baia, olhou para o teto em obra e sentiu desabar um céu de goteiras com nuvens descascadas. Fez uma breve exaltação de si para si - pedaço de Deus latente jogado no planeta, pêndulo humano, troço-anjo.

“À toa e a todos. Quero brindar-me desmesuradamente: com indignação elegante e brilho lépido em olho de pérola. O amor me diz que começar mais uma vez é sempre possível. E diz baixinho, ao pé do ouvido, por saber que os arrepios me consolam.

Adiante, os meios dos anos estão vivos. As várias metades. As bandas de terras ainda não descobertas. As marchas do espírito, a poesia e a tirolesa. E lá no cume da minha estatura, existem niños de sol; amarelos feito um império oriental, vermelhos feito agora.

Como é bom poder viver a glória de ser único. Quantas paradas ainda virão? Quantos sustos e tropeços? Não sei contar queda nem dinheiro. Só aprendi a calcular na matemática do desejo: a conta nunca bate; a prova dos nove é pura tolice; o resultado inexato é o lustre da incógnita. Cálculo que me deixa nu, jeito mais gostoso de ficar neste mundo.”

O barulho da obra vem de marteladas em cimento. Uma reforma para sustar o fluxo corrosivo. Adoniran se agarra nas raízes do futuro. Ele é um bicho invocado que tem o suor ácido, a mente tarada e a alma banhada em sonho.

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3 Comentários:

Às 5:22 AM , Anonymous Anônimo disse...

Vim agradecer a visita ao Oncotô e encontrei escritos muito legais.
Voltarei.

Beijo

 
Às 3:26 PM , Anonymous Anônimo disse...

Meu deus como vc está bom! Cada vez mais. Que linda generosidade!
beijos
amanda

 
Às 4:01 PM , Blogger Guto Melo disse...

Grato, meu amor. Volte sempre aqui e seja feliz nesta vida.

 

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