domingo, janeiro 21, 2007

Até Nunca Mais

Quando não se dá conta das coisas que não pertencem mais; quando o que foi pequeno um dia se lacera e se transforma em prodigiosa mancha de óleo. A aventura denuncia uma inveja que não cabe; a malícia em sabotar a alegria alheia com o próprio medo – as conquistas são sujas, sabe? - pareço ouvir. Elas não prestam pra nada – e há de se ficar mesmo é no médio-medíocre-mediano. Ele não. Ele pode repetir os mesmos projetos que deram em dor. Recasar, ter a juventude ilustrando as velhas intenções. Mas sem pegar carona na juventude. Ele a amordaça para poder viver melhor.

Ganhar dinheiro é o que nos resta. Compra a nossa miséria. Olha lá! O outdoor! Está dando mole, mostrando as coxas. Mistério e magia é para quem não tem lamúrias. É para quem sabe lamber vento e suar as próprias contradições sem vestir capa de verdugo. Por uma consciência defeituosa, eu amo, trepo, faço horrores, abraço as minhas paralisias e chupo. Mas não me caço, pois afrontar a si muitas vezes resulta em traição.

E quem sabe um dia ter condição de avistar de cima o lá embaixo bem enorme, como se perto estivesse. Quem sabe até rodar bem velozmente e cair em destonteio ou fazer da tontura o bombom que evidencie a polpa dos lábios. Sem fuga, sem despreparo e sem desespero. Apenas um jardim de sonhos, vivos e reais, como o rosa celeste da noite cheirando a tóxico. E sem medo, a entrega: estar nas mãos de uma navalha alada degolando o diabo e o ciúme.

O apego é uma penúria. Nem quando Ele me esquece Ele me desagarra. Nós para quem não tem dentes. Quilos de amargura, de esperança puída. Servir e servir é o modo pleno que Ele encontra para existir na face deste planeta. Mas eu sou aquele papagaio que aparece no final do filme para fazer companhia a um Macunaíma sem dentes. O nosso herói mau-caráter desatou todos os nós até ficar banguela. Daí para a morte foi um pulo na boca de Uiara mãe d’água, piranha voraz.

Então, a voz é uma tentativa de intimidação... é preciso espantar este horroroso maledicto. Vá se foder, autoridade de biltre! Vá se foder, honra encasquetada! Vá se foder e muito! O absurdo não está no traslado mas na fixidez. E depois de afugentar o ensaio Dele - a querença de infiltração – posso dizer: vou sumir, até nunca mais!

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5 Comentários:

Às 3:35 PM , Anonymous Anônimo disse...

Guto, será que quem sabota a alegria alheia tem apenas malícia? Pra mim, malícia é uma coisa meio zen, meio brincadeira de alguém maroto. Prefiro usar "perversidade". E, misturando isto com o post sobre o Paulo Coelho, creio que o mundo adora impostores e imposturas, tanto que o "mago" tá podre de rico, vende pra caramba, é bajulado por chefes de Estado, Rainhas e o escambau. Agora, qdo não se é impostor ninguém acredita na gente. O autêntico é sempre visto com desconfiança. Assumir-se soa falso para os ouvidos habituados às mentiras e imposturas. E sugerem que, se dizemos que somos A, estamos escondemos o resto do abecedário. E tem sempre algum perverso acreditando que nossa alegria é uma impostura, e de tudo faz para destruí-la. Enquanto não ficamos atônitos, não desiste. PC é lido e aplaudido pq está em sintonia com uma sociedade de atores. Como não me afino com o grande teatro social ligo o foda-se, principalmente para todo aquele a quem minha autenticidade incomoda. Fazer o quê?
Beijos

 
Às 4:58 PM , Blogger Su disse...

Babel de dois. Nós leitores nos encarregamos de fazer o que o buraco do metrô não fez: te engolir!

Desculpe, é que nada coube melhor ao que li.

 
Às 2:45 PM , Blogger Jane Malaquias disse...

Vejo um estado de homem pelo avesso, a pele agora protegida pelas entranhas assustadoras, desaparecendo dentro de si mesmo, escondendo a frágil superfície com o dentro escancarado que brinca de medusa e papangu e egungun.

 
Às 10:57 AM , Blogger Flavio Vaz disse...

Às vezes também sinto vontade de sumir. Abração.

 
Às 9:55 AM , Blogger Edgar Aristimunho disse...

Li teu texto e depois me certifiquei que continuavas aqui.
Aprende-se a gostar da tua escrita sendo dragado pelas palavras.
Abraço, Guto.

 

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