O ato da entrega
De um modo geral, a entrega de cargos neste país está atrelada a algum escândalo, ainda que não comprovado. Políticos largam o osso porque a corrupção arromba seus postos. E não é só um cargo ou um lugar de fala o que não pode ser sustentado. A insustentabilidade, embora momentânea, de um caráter fidalgo, que sempre vestiu o aparelho estatal, é o aspecto mais positivo trazido por toda a avalanche de sujeira exposta na mídia. Se não somos capazes de mudar o rumo do país pela via do entendimento das nossas falhas históricas de caráter, então que seja por meio do bico da águia, faminta por notícias e “verdade”.
Talvez seja por esse costume de ver o ato da entrega de cargos como conseqüência da prática da corrupção que muita gente se surpreendeu com a saída da ministra Marina Silva. Como assim? Não houve nenhuma maracutaia, nenhum feito ilícito? O ato da ministra soa como ousadia por, de certa forma, quebrar uma expectativa automática. Além do mais, saiu sem antes levar um papo com o presidente, tramando a retirada na surdina, mostrando que por debaixo dos panos a dignidade também é possível. Sua decisão, repentina porque silenciosa, é fruto de um tipo de coragem que decorre do cansaço. Mas a falta de resistência para continuar em exaustivas quedas de braço é apenas aparente ou, pelo menos, não se converte em paralisia, embora a própria ministra tenha afirmado que a sua saída se deve à estagnação do governo nas questões ambientais.
Em vários momentos o cargo da ministra esteve ameaçado. Ela mesma já havia dito que se considerava uma exceção e a turma anti-Marina, os ditos desenvolvimentistas, nunca se mostrou disposta a conviver com o “desvio”. Exceção não apenas pelo que defendia. A acreana Maria Osmarina, ainda menina, “cortou seringa”, plantou roçado, caçou e pescou para ajudar o pai a sanar uma dívida com um seringalista de Belém do Pará - o patrão financiara a viagem de volta ao Acre para toda a família, que não se adaptou em terras paraenses. Alfabetizou-se apenas aos 17 anos, após se mudar para a capital, Rio Branco, em busca de curar uma hepatite que estava sendo tratada como malária. Depois da alfabetização, cursou supletivos enquanto trabalhava como doméstica, ingressou na Universidade Federal do Acre e se formou em História.
Esta brilhante exceção saiu da floresta, conviveu com Chico Mendes, liderou movimentos socioambientais e foi mais uma vez para a capital, desta vez a do país, como a mais jovem parlamentar a ocupar uma vaga no Senado Federal, derrubando ex-governadores, empresários e outros velhos caciques da política regional. Ao se tornar ministra, travou sem cessar vários embates com o governo, não só a respeito dos desmatamentos, mas em questões ligadas a produção de alimentos transgênicos, saneamento básico e outras de sua pasta.
Talvez seja por esse costume de ver o ato da entrega de cargos como conseqüência da prática da corrupção que muita gente se surpreendeu com a saída da ministra Marina Silva. Como assim? Não houve nenhuma maracutaia, nenhum feito ilícito? O ato da ministra soa como ousadia por, de certa forma, quebrar uma expectativa automática. Além do mais, saiu sem antes levar um papo com o presidente, tramando a retirada na surdina, mostrando que por debaixo dos panos a dignidade também é possível. Sua decisão, repentina porque silenciosa, é fruto de um tipo de coragem que decorre do cansaço. Mas a falta de resistência para continuar em exaustivas quedas de braço é apenas aparente ou, pelo menos, não se converte em paralisia, embora a própria ministra tenha afirmado que a sua saída se deve à estagnação do governo nas questões ambientais.
Em vários momentos o cargo da ministra esteve ameaçado. Ela mesma já havia dito que se considerava uma exceção e a turma anti-Marina, os ditos desenvolvimentistas, nunca se mostrou disposta a conviver com o “desvio”. Exceção não apenas pelo que defendia. A acreana Maria Osmarina, ainda menina, “cortou seringa”, plantou roçado, caçou e pescou para ajudar o pai a sanar uma dívida com um seringalista de Belém do Pará - o patrão financiara a viagem de volta ao Acre para toda a família, que não se adaptou em terras paraenses. Alfabetizou-se apenas aos 17 anos, após se mudar para a capital, Rio Branco, em busca de curar uma hepatite que estava sendo tratada como malária. Depois da alfabetização, cursou supletivos enquanto trabalhava como doméstica, ingressou na Universidade Federal do Acre e se formou em História.
Esta brilhante exceção saiu da floresta, conviveu com Chico Mendes, liderou movimentos socioambientais e foi mais uma vez para a capital, desta vez a do país, como a mais jovem parlamentar a ocupar uma vaga no Senado Federal, derrubando ex-governadores, empresários e outros velhos caciques da política regional. Ao se tornar ministra, travou sem cessar vários embates com o governo, não só a respeito dos desmatamentos, mas em questões ligadas a produção de alimentos transgênicos, saneamento básico e outras de sua pasta.
Tamanho capital biográfico deve ser uma ofensa para quem tem cifrões tatuados na testa ou para os que respiram o ar da retórica a fim de, com todo fôlego, sustentar um discurso que não possui lastro na realidade. Marina é sincera, ética, de fala simples e inteligente, detentora de um brio admirável e outras qualidades há muito ausentes entre os políticos. Marina não é fidalga e tem o que sustentar. Ela é o acerto de caráter, maciço como a mata fechada, digno de seu ato de entrega.
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