segunda-feira, setembro 15, 2008

Os vigias perdem tempo


Virtudes existem para trazer alegria. Daí que ser livre é o ponto central de uma alma arqueada de orelha a orelha, além de dar fôlego para o trajeto abarrotado de dias em que o sol está escondido atrás do olhar vigilante de alguém. Sim, é preciso muito preparo para seguir desviando dos vigias, daqueles que não suportam a alegria alheia.

Esse tipo de olhar é praticamente uma conduta social. É como se houvesse um acordo tácito no sentido de construir um território de mesquinharia em cada um onde possam se assentar as ocupações do outro, sejam estas banais ou não. É uma miséria este olhar para fora que desconsidera a beleza singular, sempre surpreendente por ser única. Em lugar disso, a observação como um bastão do controle, passado de mão em mão, em um revezamento de muitos por muitos.

Bem, o melhor é estar por cima, abraçado com os virtuoses do júbilo, gente lépida, serelepe. E se tiver que matar, o melhor inseticida para os vigias é o desprezo.

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sábado, setembro 06, 2008

Um novo conceito de costas

Os discos intervertebrais são estruturas que me lembram sempre a mesma incompetência para a paciência. Eles são os meus bandidos mais orgânicos e os guardadores de tensões mais fiéis. E também constituem-se em nervos pensantes, sábios inventores de um novo conceito de costas.

- Costas são o miolo da dor, mesmo quando o problema é no estômago.

Ah, meus malditos discos! Na lombar eu já os tenho mortos. Se pelo menos não houvesse a insistência em encurtar meus músculos... Sinto a teimosia em camadas, pelo fio do que em mim é denominado espinha dorsal.

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segunda-feira, setembro 01, 2008

Dos bons e maus tradutores

Apuros vagabundos, não há risco ou condição de corte para o rosto dessa criatura ficar assim tão borrão de medo. Quisera tocar a medula que rege os tomos das coisas suspensas, para sentir nas mãos a haste da bandeira que o futuro pede - sim, a ética do palhaço ou a moral do equilibrista. E se o vento um dia errar de porta, não tem importância. Já tive vento no cabelo, brisa na orelha, tudo suficiente, tudo suficiente para saber que ventos e portas mudam de posição o tempo todo.

São os apuros vagabundos que tornam as pessoas mais infantis. Elas se traem por coisa pouca ou nada, muitas vezes por sequer entenderem o cinismo que sustentam. Mas há os que não são fisgados por essa rede, os que conhecem apuros sinceros, perigos de alma, riscos sérios. Geralmente, permanecem em silêncio e traduzem o perrengue de ontem em gentileza de hoje.

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