segunda-feira, dezembro 24, 2007

Recesso luxurinho

Queridos leitores,

Este ano foi positivo. Na Revista Corsário, foram publicados o conto Pé de Cana e Canapé e o poema A Invenção de uma Ebulição. Na Malagueta, o conto Mudubim e a Lata Preta, além de três poemas. Fim de ano veio a notícia da premiação no I Concurso Nacional de Poesia da FATEC-SP e da exibição do meu vídeo Entrequadras no Cineclube da FATEC e na TV universitária de lá. Para o próximo ano, muitas surpresas se assanham.

Isso sem falar do Mercúrio e Luxúria, que para mim é uma espécie de laboratório, lugar onde posso propor uma escrita torta, deslizante; uma força descompromissada, com arranjos improvisados, cenas e desmontes. Aqui, tanto pode a seriedade, o absurdo, a tolice, futilidade, bom humor, profundidade, generosidade, descrença, indiferença, chatice, ternura, amor, bastante amor... Enfim, a tal da expressão de uma incontinência existencial, metaforizada pelo casal que dá título ao blog.

Para os que vêm aqui, a minha gratidão, um bom Natal e um 2008 repleto de realizações. Volto a publicar neste espaço depois do dia 06/01.

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quarta-feira, dezembro 19, 2007

O caos e a ternura

Cuidado com este móvel! Onde estão as minhas meias? Entre uma e outra coisa fora de ordem... Sim, eu preciso das chaves para poder entrar em casa. A descarga... A descarga não está funcionando. Começa vazando, depois joga água para todo lado. Há um disjuntor desnutrido, ou bastante eficiente, bem ali – não suporta a amperagem do chuveiro em nenhum momento. Se o banho for um pouco mais quente... Ploc, ele desarma feito um dispositivo covarde.

Lugar de trilho de cortina não é no chão da área de serviço. Agora, agora temos mais espaço! Janelas imensas, ipê em frente. Coisa mais encantadora abrir o olho e dar de cara com esta árvore tão bela. Seus galhos parecem já ter resistido a tanta chuva de dezembro... Aliás, seja qual for o clima, o ipê está ali para anunciar o júbilo de sobreviver silenciosamente.

A síndica sumiu, a planta hidráulica do prédio, meu Deus! Só falta agora furar a parede para instalar um armário e estourar um cano. A parede da cozinha dá para o banheiro, esqueceu? Mas aqui é bem melhor que o outro. Lá escutávamos tudo – escarros, gemidos, gente lançando suas fezes no mundo. A vizinha sempre reclamava do som alto, mesmo quando o volume estava baixo. Isolamento acústico de merda!

Aqui é tão bom que até se esquece da ausência de elevador. Três andares de escada, meus joelhos chiam um pouco. Dura três meses no máximo. Rapidinho as coxas estarão fortes e o joelho protegido. Eita, não havia reparado esta tomada quebrada. Queria tanto passar roupa escutando música! Onde colocar a estante menor, a cama de hóspedes? Tanto espaço, tanto drama.

Soltou mais um taco, você viu? Faz o seguinte: abre a janela, deixa o ipê sorrir pra gente!

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sexta-feira, dezembro 14, 2007

Brincando com os provérbios - parte 2

Para quem sabe ler, a vida é mais complicada

Para o bom entendedor nenhuma palavra basta

Há males que vêm para ficar

Há remédio para tudo, menos para a morte e a preguiça

Pensando morreu um sujeito que amava a política

As fezes são as mesmas, mas as moscas não entendem assim

Azar no jogo, sofrimento na vida

Ladrão que rouba ladrão é ladrão também

O que os olhos não vêem, o coração avisa

Quando a esmola é muita, o santo agradece

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terça-feira, dezembro 11, 2007

Brincando com os provérbios

Devagar se vai apreciando a paisagem

Quem com ferro fere machuca à beça

Vingança é um prato que se come apimentado

Quem ri por último não tem medo da solidão

Recordar é viver apanhando

Roupa suja se lava com as mãos

Pimenta no cu dos outros é uma peça de Nelson Rodrigues

Briga de marido e mulher ninguém sabe ao certo o que é

Dinheiro e felicidade são duas dores de papel

À noite todos os gatos são estrelas com unhas

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quinta-feira, dezembro 06, 2007

O diário dos homens obsoletos – parte 4


Mais uma vez brigaram pelo mesmo motivo tolo de sempre: o dinheiro curto. Ele reclamava do peso em suas costas, talvez por ter costas frágeis. Ela arrotava um resquício de fidalguia, de uma nobreza bizarra, ao se dizer herdeira. Declamava, com certo orgulho, o seu privilégio: não ter de se submeter à lógica imperialista dos dindindons.

No dia seguinte, foi buscá-lo no trabalho, no horário do almoço, com um saquinho de acerolas. É para você – ela ofertou. Estavam vermelhas, bonitas, plenas de viço. Mas ele, que sempre adorou a fruta, comportou-se como se nunca tivesse gostado de acerolas. Mudou logo de assunto, colocou o saco no banco traseiro do carro, aquelas frutas não diziam nada a respeito do seu amor.

Ao voltar para casa, mais uma vez ela veio com as frutinhas, desta vez em uma vasilha. Se quiser fazer um suco... As frutas, juntinhas e alegres, pareciam uma carne morta.

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domingo, dezembro 02, 2007

Crescimento


Alvéolo
Pureza miúda
Contingência e surdez
Espiga curvando o milho
Conceito variável do ponto em
Questão que o sujeito desponta a
Confusão assolada gostoso excesso de se refazer
A cada instante na dobra felina corrida verbetérea
Sambando tintas e celebrando américas amarradas ao divã-sol
Cativado no poço da panela tristificando a coisa certa rastejante
Roscas em miríade depostas na grama atravessada em travessuras e sonhos
Rajadas ao vento fungando o vinil do pescoço do dulcíssimo tiranossauro rex.

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